Fan-Jovem: Relatórios de um ET

Relatórios de um ET

quinta-feira, 5 de junho de 2008




Caros membros supremos do Conselho, minhas reverentes saudações, em nome de Deus.
Transmito-vos minhas mais recentes humildes conclusões a respeito do planeta que me coube observar. Pelo que me consta, os enviados aos planetas Vermelho e Gama estão concluindo seus relatórios, que vos serão encaminhados em breve. A mim, coube a observação de Azul. Esta me resultou tamanhas peculiaridades, que me apressei em vos escrever.


Os seres dominantes em Azul são racionais e fisicamente como nós.


Anulando o contexto em que vivem e levando em consideração apenas sua aparência física, pensaria estar em nosso próprio planeta. Eles se denominam a espécie Humana.


Todos os valores, costumes e sentimentos de que partilhamos em nosso planeta são conhecidos de Azul. A honra, o amor, o trabalho, a amizade, a humildade, enfim; todos os que se possam nomear. Contudo, suas prioridades quanto a estas coisas são absolutamente inversas às nossas, em seu dia-a-dia. A respeito deste, compartilharei de exemplos simples e práticos que devem evidenciar as diferenças entre nossa cultura e a deles, de modo bastante claro. Dirijo-me ao que interessa:


Em Azul, é raro procurar alguém desconhecido em vias de se estabelecer novos laços. Quando um humano não se predispõe a isso, simplesmente não enxerga as possibilidades de novos relacionamentos.


Fiz uso de diversos elevadores aqui – que, infelizmente, movem-se apenas verticalmente. Houvesse duas ou dez pessoas naquele cubículo, o silêncio sempre predominava. No prédio onde estou trabalhando e no condomínio onde moro, todos dizem, no máximo, “bom dia”, ao se encontrarem. Os mais comunicativos comentam – não imagino por que – algo sobre o clima. Depois, segue-se o silêncio.


Este, aliás, parece ter uma posição de extrema relevância na cultura de Azul. Quando um humano está ofendido com outro, não há diálogo ente eles. Já presenciei diversas oportunidades em que um humano deixou de falar com outro sem que este sequer soubesse a razão para tanto. Num destes casos, a amizade entre os indivíduos observados simplesmente acabou, pois nenhum tentou uma reconciliação e acabaram por perder o contato. Muito estranho para seres racionais, não lhes parece?


Este silêncio conseqüente da mágoa, eles chamam de gelo, pois se fazem frios com as pessoas que os feriram, ainda que o tenham feito sem intenção. Por impressionante que vos pareça, desejo esclarecer que não são apenas as crianças que usam deste artifício, mas os adultos também, freqüentemente.


O mais estranho é que isto não é uma prática limitada a colegas. Um humano que trabalha no mesmo departamento que eu recentemente me disse que não fala com a esposa há uma semana! Perguntei como ele agüentava e ele respondeu, tranqüilamente: “É a vida”.


Ainda estou refletindo a respeito de tal resposta.


O espaço de minha lauda está se esgotando. Assim que receber de vós a próxima, detalharei bem como possa o estranho estilo de vida em Azul. Saudações calorosas e devidas honras,


Rhöl Virèt.

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