Interagindo com a notícia

Revista IMPRENSA - EDIÇÃO 246 /JUNHO 2009
Considerado uma importante ferramenta de comunicação digital, os newsgames são alternativa para uma nova geração de leitores
Salvar o mundo de terroristas, lançar tortas na cara de personalidades, não deixar que as velas em favor da paz se apaguem ou fazer Ronaldo, o fenômeno, correr até perder peso. Esses entre outros são exemplos de fatos que viraram games, tecnicamente conhecidos como newsgames (jogos/notícias). Entre os mais recentes estão: “Shoes at Bush” o famoso episódio do sapato arremessado pelo jornalista iraquiano no ex-presidente Bush. O “Rihanna´s Revenge” que possibilita ao jogador esmurrar o ex-namorado da cantora Rihanna, Chris Brown. E o “Padre Voador”, neste caso o jogador deve eliminar os obstáculos que podem derrubar o religioso.
De temas mais sérios como política aos mais descontraídos como paródias de celebridades os newsgames se popularizaram por toda a web, basta existir uma notícia de relevância para virar animação. Esse conceito surgiu em 2003 nos Estados Unidos, à época os portais de notícias começavam a experimentar novos formatos de informação. Nas prévias das eleições americanas essa ferramenta se popularizou, a MSNBC lançou o “Race To The White House” jogo em que os mascotes dos partidos, republicano e democrata, disputam a corrida em direção à Casa Branca. A CNN publicou o “Presidential Pong”, neste o internauta joga tênis com os pré-candidatos. E o USA Today criou o “Candidate Match Game”, uma proposta mais ousada que ajudava os eleitores indecisos a escolherem seu candidato.
Um dos maiores projetos desenvolvidos na área é o Croopier uma plataforma de jogos on-line que tem como fonte de criação inúmeras notícias relacionadas a temas de interesse social. Semanalmente novos games são produzidos e publicados, dentre as temáticas encontram-se questões sobre paraísos fiscais, eleições políticas, guerras e o dia-a-dia de celebridades. Esse projeto é desenvolvido por designers estadunidenses e representa um importante trabalho de pesquisa sobre comunicação e novos formatos narrativos. Segundo o diretor do projeto, Abelardo Gil-Fournier, o Croopier é um misto de arte, tecnologia e novas mídias.
De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Telefônica em parceria com a Universidade de Navarra dois em cada dez jovens brasileiros já gastam mais de duas horas diárias jogando games, são os “Heavy Users”. O jornalista Geraldo Seabra que já escreveu uma dissertação sobre newsgames e é atual editor de um site sobre o tema confirma que a atenção dos jovens está bem mais disputada: “Os newsgames representam uma revolução no que diz respeito ao contato do jovem com a informação, atualmente os adolescentes demonstram pouco interesse em ler notícias, e essa plataforma mista de informação e animação serve como uma alternativa que faz com que o jovem não só tome conhecimento do ocorrido como interaja com ele”. O especialista afirma que somente o modelo tradicional de jornalismo não dá conta da demanda por informação na internet.
Para o uruguaio Gonzalo Frasca, PHD em vídeo games pelo Centro de Pesquisas de Copenhague e pioneiro na criação de newsgames, os jogos representam uma forma de protesto dos jovens atuais: “Assim como na década de 60 quando a juventude protestava por meio de canções hoje eles podem fazer através dos newsgames”. Frasca comenta como surgiu a ideia de criar o projeto: “Quando eu era editor de ciência e tecnologia da CNN em espanhol de Atlanta decidi criar o equivalente a uma caricatura política, aquelas que vemos nos veículos impressos, associar essa brincadeira ao vídeo game foi essencial”.
A reportagem da revista IMPRENSA testou a percepção de um jovem estudante sobre os newsgames. Wilson Domeneghetti tem 21 anos, é jogador diário de jogos eletrônicos e já participou da produção de um documentário sobre games, a pedido da reportagem ele testou dois: “Shoes at Bush” e “Race To The White House” e deu sua opinião sobre o assunto: “Os jogos são interessantes e servem para refletir a notícia na opinião do jogador. O humor e a ironia bem dosados são fatores atraentes ao público jovem, pois tornam o assunto mais compreensível”. Domeneghetti finaliza a experiência contando que os jogos trazem uma proximidade com o tema do fato ocorrido, quanto mais plurais eles forem, mais servirão como um método de comunicação diferenciado.
Os newsgames do Brasil
O país não fica atrás na produção das animações interativas. O primeiro newsgame brasileiro foi o “Nanopops Políticos” animação em que o jogar deve acertar o nome do personagem político por meio da imagem. Em 2008 o Portal Uai um newsgame onde o internauta dá sua opinião sobre as características dos prefeitos, relacionados a temas do município, no final do jogo o eleitor verifica qual candidato tem um pensamento mais próximo ao dele. Nas eleições municipais em São Paulo e Rio de Janeiro a revista Veja colocou no ar em seu site um game sobre as eleições, a pessoa respondia um quiz com algumas perguntas relacionadas a temas como finanças, educação saúde, segurança, com base nas respostas dos candidatos o jogo ilustrava a visão de cada candidato.
O doutorando em comunicação e cultura contemporânea da Universidade Federal da Bahia, Luiz Adolfo Andrade destaca que os newsgames refletem um jornalismo participativo. “Em vez de comentar uma noticia num determinado blog o sujeito interage com o fato na forma de game”. Andrade destaca que não se trata de uma simples ferramenta de entretenimento, mas uma mudança na forma de comunicação digital: “O que está em jogo é uma nova forma de produção e circulação de notícias, que na minha opinião contribui para o que entendemos por jornalismo participativo. O leitor, neste caso, é bem mais engajado que o receptor de notícias tradicional de um jornal impresso ou on-line”.
Andrade ressalta que para produzir um newsgame não é necessária alta tecnologia, basta ter um programa flash que o jogo é montado de forma simples e rápida: “Esse tipo de jogo deve ser produzido rapidamente, enquanto o fato ainda tem força no noticiário. Desta forma não é necessário um alto poder de resolução gráfica, seu processo de produção deve ser simples e rápido. Atualmente, existem produtoras especializadas que o fazem”.
Entre as produtoras pioneiras está a Newsgaming, de propriedade de Gonzalo Frasca, citado no início da matéria. Entre as criações da empresa está o jogo “September 12th” que segundo Frasca levou três meses para ficar pronto, nesse jogo a pessoa deve eliminar todos os terroristas que ameaçam a comunidade, Frasca recebeu várias criticas sobre o assunto. O outro que trata do atentado de Madri foi produzido num tempo recorde de 48 horas, neste o jogador deve manter acesas as velas que homenageiam as vitimas do atentado.
O newsgame da Casa Branca
O presidente estadunidense lançou em abril um game para aproximar-se dos cidadãos americanos, o “Open For Questions” que possibilita que os cidadãos enviem e votem quais perguntas o presidente deve responder. Inicialmente o jogo usa as possibilidades de interatividade abertas pelas redes sociais, mas com um diferencial que permite o acesso a dados públicos por meio de uma comunicação mais lúdica e dinâmica. O “Open For Questions” é bem parecido com o jogo educacional “Click4 Obama”, lançado durante a campanha presidencial, com perguntas e respostas sobre a história política americana.
Salvar o mundo de terroristas, lançar tortas na cara de personalidades, não deixar que as velas em favor da paz se apaguem ou fazer Ronaldo, o fenômeno, correr até perder peso. Esses entre outros são exemplos de fatos que viraram games, tecnicamente conhecidos como newsgames (jogos/notícias). Entre os mais recentes estão: “Shoes at Bush” o famoso episódio do sapato arremessado pelo jornalista iraquiano no ex-presidente Bush. O “Rihanna´s Revenge” que possibilita ao jogador esmurrar o ex-namorado da cantora Rihanna, Chris Brown. E o “Padre Voador”, neste caso o jogador deve eliminar os obstáculos que podem derrubar o religioso.
De temas mais sérios como política aos mais descontraídos como paródias de celebridades os newsgames se popularizaram por toda a web, basta existir uma notícia de relevância para virar animação. Esse conceito surgiu em 2003 nos Estados Unidos, à época os portais de notícias começavam a experimentar novos formatos de informação. Nas prévias das eleições americanas essa ferramenta se popularizou, a MSNBC lançou o “Race To The White House” jogo em que os mascotes dos partidos, republicano e democrata, disputam a corrida em direção à Casa Branca. A CNN publicou o “Presidential Pong”, neste o internauta joga tênis com os pré-candidatos. E o USA Today criou o “Candidate Match Game”, uma proposta mais ousada que ajudava os eleitores indecisos a escolherem seu candidato.
Um dos maiores projetos desenvolvidos na área é o Croopier uma plataforma de jogos on-line que tem como fonte de criação inúmeras notícias relacionadas a temas de interesse social. Semanalmente novos games são produzidos e publicados, dentre as temáticas encontram-se questões sobre paraísos fiscais, eleições políticas, guerras e o dia-a-dia de celebridades. Esse projeto é desenvolvido por designers estadunidenses e representa um importante trabalho de pesquisa sobre comunicação e novos formatos narrativos. Segundo o diretor do projeto, Abelardo Gil-Fournier, o Croopier é um misto de arte, tecnologia e novas mídias.
De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Telefônica em parceria com a Universidade de Navarra dois em cada dez jovens brasileiros já gastam mais de duas horas diárias jogando games, são os “Heavy Users”. O jornalista Geraldo Seabra que já escreveu uma dissertação sobre newsgames e é atual editor de um site sobre o tema confirma que a atenção dos jovens está bem mais disputada: “Os newsgames representam uma revolução no que diz respeito ao contato do jovem com a informação, atualmente os adolescentes demonstram pouco interesse em ler notícias, e essa plataforma mista de informação e animação serve como uma alternativa que faz com que o jovem não só tome conhecimento do ocorrido como interaja com ele”. O especialista afirma que somente o modelo tradicional de jornalismo não dá conta da demanda por informação na internet.
Para o uruguaio Gonzalo Frasca, PHD em vídeo games pelo Centro de Pesquisas de Copenhague e pioneiro na criação de newsgames, os jogos representam uma forma de protesto dos jovens atuais: “Assim como na década de 60 quando a juventude protestava por meio de canções hoje eles podem fazer através dos newsgames”. Frasca comenta como surgiu a ideia de criar o projeto: “Quando eu era editor de ciência e tecnologia da CNN em espanhol de Atlanta decidi criar o equivalente a uma caricatura política, aquelas que vemos nos veículos impressos, associar essa brincadeira ao vídeo game foi essencial”.
A reportagem da revista IMPRENSA testou a percepção de um jovem estudante sobre os newsgames. Wilson Domeneghetti tem 21 anos, é jogador diário de jogos eletrônicos e já participou da produção de um documentário sobre games, a pedido da reportagem ele testou dois: “Shoes at Bush” e “Race To The White House” e deu sua opinião sobre o assunto: “Os jogos são interessantes e servem para refletir a notícia na opinião do jogador. O humor e a ironia bem dosados são fatores atraentes ao público jovem, pois tornam o assunto mais compreensível”. Domeneghetti finaliza a experiência contando que os jogos trazem uma proximidade com o tema do fato ocorrido, quanto mais plurais eles forem, mais servirão como um método de comunicação diferenciado.
Os newsgames do Brasil
O país não fica atrás na produção das animações interativas. O primeiro newsgame brasileiro foi o “Nanopops Políticos” animação em que o jogar deve acertar o nome do personagem político por meio da imagem. Em 2008 o Portal Uai um newsgame onde o internauta dá sua opinião sobre as características dos prefeitos, relacionados a temas do município, no final do jogo o eleitor verifica qual candidato tem um pensamento mais próximo ao dele. Nas eleições municipais em São Paulo e Rio de Janeiro a revista Veja colocou no ar em seu site um game sobre as eleições, a pessoa respondia um quiz com algumas perguntas relacionadas a temas como finanças, educação saúde, segurança, com base nas respostas dos candidatos o jogo ilustrava a visão de cada candidato.
O doutorando em comunicação e cultura contemporânea da Universidade Federal da Bahia, Luiz Adolfo Andrade destaca que os newsgames refletem um jornalismo participativo. “Em vez de comentar uma noticia num determinado blog o sujeito interage com o fato na forma de game”. Andrade destaca que não se trata de uma simples ferramenta de entretenimento, mas uma mudança na forma de comunicação digital: “O que está em jogo é uma nova forma de produção e circulação de notícias, que na minha opinião contribui para o que entendemos por jornalismo participativo. O leitor, neste caso, é bem mais engajado que o receptor de notícias tradicional de um jornal impresso ou on-line”.
Andrade ressalta que para produzir um newsgame não é necessária alta tecnologia, basta ter um programa flash que o jogo é montado de forma simples e rápida: “Esse tipo de jogo deve ser produzido rapidamente, enquanto o fato ainda tem força no noticiário. Desta forma não é necessário um alto poder de resolução gráfica, seu processo de produção deve ser simples e rápido. Atualmente, existem produtoras especializadas que o fazem”.
Entre as produtoras pioneiras está a Newsgaming, de propriedade de Gonzalo Frasca, citado no início da matéria. Entre as criações da empresa está o jogo “September 12th” que segundo Frasca levou três meses para ficar pronto, nesse jogo a pessoa deve eliminar todos os terroristas que ameaçam a comunidade, Frasca recebeu várias criticas sobre o assunto. O outro que trata do atentado de Madri foi produzido num tempo recorde de 48 horas, neste o jogador deve manter acesas as velas que homenageiam as vitimas do atentado.
O newsgame da Casa Branca
O presidente estadunidense lançou em abril um game para aproximar-se dos cidadãos americanos, o “Open For Questions” que possibilita que os cidadãos enviem e votem quais perguntas o presidente deve responder. Inicialmente o jogo usa as possibilidades de interatividade abertas pelas redes sociais, mas com um diferencial que permite o acesso a dados públicos por meio de uma comunicação mais lúdica e dinâmica. O “Open For Questions” é bem parecido com o jogo educacional “Click4 Obama”, lançado durante a campanha presidencial, com perguntas e respostas sobre a história política americana.
Fonte : Blog Jornalismo e muito mais
Nenhum comentário:
Postar um comentário