Fan-Jovem: O Brazil não conhece o Brasil

O Brazil não conhece o Brasil

quinta-feira, 12 de março de 2009


“Popozuda” e “máquina de sexo” são alguns dos adjetivos pelos quais brasileiras são chamadas lá fora. As nomenclaturas foram retiradas do livro Rio for Partiers (Ed. Solcat), espécie de guia turístico sobre o Rio de Janeiro, e revelam uma realidade vergonhosa: o Brasil não é visto sem conotações sexuais. É ainda mais constrangedor dizer que este livro foi escrito por um brasileiro (Cristiano Nogueira), e que o próprio país construiu – e constrói – esta visão deturpada.

Segundo a pesquisadora Louise Prado Alfonso, escritora do TCC Embratur: formadora de imagens da nação brasileira, a empresa que divulga o país no exterior é a culpada pela expansão do conceito sexual. De acordo com Louise, desde 1960 as mulheres são incluídas à paisagem natural e “vendidas” como mercadoria a estrangeiros. Ela contou ao Jornal da Unicamp, que a sexualidade não passou de uma estratégia comercial: “Os documentos da Embratur contam a preocupação dos governos em vender o Brasil como produto para os mercados interno e externo”.

O que foi solução antes, hoje é problema que precisa ser combatido, já que a cultura brasileira foi incondicionalmente relacionada ao sexo, inclusive pelos nativos. Heinar Maracy, editor da revista Windows Vista, afirma que a prostituição contribui: “No exterior, consideram nossas mulheres fáceis”, comenta. “Nossa cultura foi acorrentada a isso. Os gringos só conhecem o comércio sexual, o Carnaval”, ironiza.

A festa citada por Maracy é um exemplo da visão quase que inconsciente que os próprios brasileiros têm do seu país, e que precisa ser mudada. “Carnaval não é mulher nua. É uma festa popular. Às vezes, as peladas atrapalham a visão de quem quer ver com profundidade a riqueza do desfile. Insistem na exibição dos corpos nus aqueles que não têm o que dizer ou mostrar”, explica ao O Estado de S. Paulo o jornalista Chico Pinheiro.

Outro exemplo é o funk carioca, apontado no “guia” como música produzida por um “retardado num piano eletrônico”. O DJ holandês Eboman, que veio ao Brasil em janeiro, discorda e revela “Não entendo português, mas adoro funk. A batida é atraente e é isso o que importa”. Ele acredita que o ritmo é uma forma de expressão e de protesto. “Se as letras não agradam, tendem a ilustrar o modo de vivência de uma comunidade, o que quase nunca é bem-vindo”.

O depoimento do DJ mostra que nem todos enxergam só o sexo. É o que tenta provar a italiana Silvia Capucci, que criou o projeto Stop sexual Turism, em 2005. “Muitos turistas viajam com o intuito de ficar com a mulher brasileira, que já está incluída no pacote de viagem”. Quatro anos após a campanha, nada mudou. Como previsto na canção de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, famosa pela interpretação de Elis Regina, o Brazil não conhece o Brasil. E a maior parte do Brasil, também não.

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