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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Rodrigo Viana discute a posição do jornalista na notícia

É isso ae pessoal,Wilson atrasado para escrever boas histórias mas consciente de que o público precisa de novidade e curiosidade.

Neste último sábado,o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo deu sequencia ao II Ciclo de palestras:os rumos da profissão.
O convidado desta vez foi o jornalista Rodrigo Vianna. Vinte anos de profissão, atual repórter na Record e apresentador na Record News,já trabalhou na Globo e na TV Cultura. Ele apresentou a palestra Jornalismo - O mito da isenção.


Rodrigo Vianna discutindo o documentário sobre o golpe na Venezuela

O início foi bem didático, visto que a maioria que o assistia era de estudantes, e um detalhe que fez o ínicio da apresentação lembrar uma sala de aula aconteceu logo no início: Rodrigo Vianna enfrentando o projetor, grande inimigo dos alunos em seminários. Foi muito legal ver isso, pois realmente o jornalista provou que ser um profissional com uma carreira legal não significa que está livre de pequenas eventualidades,mas voltemos aos fatos.

No começo, lembrou de Cláudio Abramo e de sua frase conhecida nos livros da faculdade, aquela que compara a ética do jornalista ao do marceneiro.No final do artigo coloco a referência completa para quem quiser dar uma olhada.Vianna não acredita na isenção do profissional sobre os fatos e nem numa objetividade completa. A isenção para ele realmente é um mito pois cada profissional carrega uma experiência de vida com crenças e escolhas distintas, que definem a pauta entregue ao repórter de maneiras diferentes."Objetividade completa é impossível", completa.

"Numa reintegração de posse de algum terreno particular que vocês tenham que cobrir, vocês vão escrever que as pessoas que estão lá são ocupantes ou invasores?".Com esse exemplo, o jornalista mostrou que com apenas uma palavra a postura do repórter que está no meio dos fatos pode mudar o sentido do que vai ser publicado. Só que em outras vezes o próprio veículo também leva ao repórter a ter que escolher entre o que ele prefere ou o que passa pela edição.Outro problema também está no momento que o jornalista exagera em centrar as atenções da notícia nele.O texto em primeira pessoa aproxima o leitor do fato. "Mas não vale exagerar", afirma.

Vianna disse na palestra que a imagem do jornalismo neutro é muito recente, pois antes os veículos sempre tomavam partido em algum fato histórico, como nos anos 50 e 60 aqui no Brasil. Os interesses econômicos dos empresários de comunicação moviam os jornais, que com sua influência derrubavam ou elevavam a quem eles desejassem, se assim fosse interessante para eles.Só de vinte anos para cá , os jornais adotaram a idéia do jornalismo imparcial.


Vianna apresentou um trecho do documentário irlandês "A revolução não será televisionada" feito em 2003 por Kim Bartley e Donnacha O'Briain. O que seria apenas uma biografia do atual presidente da Venezuela Hugo Chavez, virou um registro do golpe de Estado que aconteceu no país em 2002 sob um ponto de vista que a mídia local não mostrou.

O filme mostrou que as imagens dos conflitos civis no país e ao redor do Palácio Miraflores foram manipuladas pelos canais venezuelanos, o que distribuiu para o mundo a imagem de que os chavistas estavam atirando contra os manifestantes a favor do golpe, ao invés dos mesmos chavistas se defendendo de franco atiradores e outras forças militares nas proximidades do palácio presidencial.

No bloco final, alunos que assistiam a palestra fizeram várias perguntas sobre a influência que há sobre as notícias, dentre elas - a visão do terrorismo difundida sobre o Oriente Médio, o anti-lulismo e a blindagem do PSDB. aqui em São Paulo O jornalista apresentou dados que afirmam a visão do terrorismo vendida ao mundo. Mais de 80% das notícias divulgadas por agências vem dos Estados Unidos.Sobre a política brasileira ele concordou que há pressão sobre o governo federal, mas que ela é desproporcional a que ocorre por aqui e que vários escândalos como a CPI do Rodoanel passam despercebidos.


"Sou jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista - não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. Suponho que não se vai esperar que, pelo fato de ser jornalista, o sujeito possa bater a carteira e não ir para a cadeia. Onde entra a ética? O que o jornalista não deve fazer que o cidadão comum não deva fazer? O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão. É preciso ter opinião para poder fazer opões e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximirmos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista."

Cláudio Abramo, "A regra do jogo"

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